Ontem eu escrevi sobre não conseguir me ver como realmente sou.
Faz meses que comecei a perceber isso. Primeiro notei que me via sempre pelo olhar dos outros. Estava sempre esperando um feedback pra saber o que cada pessoa pensava de mim e a partir daí criar a minha imagem.
Imagina só! No final eu era um mosaico. Cada pessoa refletindo um pedaço diferente e eu querendo obter uma imagem decente no final desse processo.
Foi o primeiro sinal de que havia algo bem desencontrado em mim.
Aí que começou a minha busca pela minha essência. Afinal, eu estava disposta a descobrir quem eu era de verdade, mas tudo o que eu tinha naquele momento eram os pedaços que cada pessoa me entregava e (o que mais me assombrava) o que elas não diziam?
Meu Deus, quantas noites de sono perdido imaginando o que em mim seria tão terrível a ponto das pessoas nem sequer me dizerem?
Sim, porque a gente não chega praquela pessoa chaaaata e diz na cara dela que ela é a maior chata do mundo!
Então os pedaços que me faltavam, eu ainda completava com o mais terrível que eu conseguia imaginar. Na minha cabeça eu usava como desculpa que era pra não ter erro, melhor ser consciente da minha sombra, certo?
O problema que eu não estava consciente da minha sombra, estava era criando uma sombra imaginada, saída de um filme de terror dos mais cabulosos.
Se essa imagem pudesse ser vista, estaria num museu como a sombra mais tenebrosa já desenhada pela imaginação de alguém.
Fiz um ótimo trabalho em me pintar como um monstro.
Mas e daí?
Daí que errei feio. Alguém lembra como funciona a lei da atração?
Se eu me acho terrível, o que mesmo que as pessoas vão achar de mim?
Então imagina só a chuva de críticas que era a minha vida... Genteeeeee parecia que nada do que eu fazia tava certo. Nadinha.
E eu só tinha puxado um pedacinho do véu que cobria a verdade. Tava começando a tentar entender o que eu tava descobrindo e ainda nem sabia direito por onde começar a trabalhar essa questão quando a pandemia começou!
A iludida aqui, achando que ia tirar a quarentena de letra, afinal, minha vida era casa-trabalho-casa.
Mas um 2020 que se preze não deixa por isso mesmo! Quem disse que eu teria direito a quarentena?
Levei um solavanco, fui arrancada de casa e jogada no mundo real. Cristo, que loucura! Ter que coexistir com pessoas? Eu????
E pra quê tempo pra pensar? Quanto mais eu pensasse, mas bobagem eu ia imaginar mesmo. Então a vida se encarregou direitinho de nem me deixar respirar. Me jogou de brinde ainda pessoas incríveis pra eu nem ter do que reclamar.
Depois de novos amigos, reencontro com velhos amigos, contatos de todos os tipos, muita observação e muitas lágrimas no escuro do meu quarto (porque tenho meu pezinho em peixes) e alguma terapia, começo a achar que talvez exista alguma possibilidade de ter alguém legal aqui dentro.
Você deve estar lendo e pensando "minha nossa, essa mulher deve ter algum problema estético terrível, ou algum transtorno de personalidade". Mas não, o meu transtorno tem relação com autoestima. E, se você me ver na rua, pode até me achar bonita. Não são poucas as pessoas que acham que eu me acho e, isso pra mim é a prova de que realmente há um problema.
Quando falo superficialmente pra alguém sobre como me sinto comigo mesma, é comum ouvir "Nossa, mas você finge bem, então!"
Amigo, eu não finjo. Eu tento desesperadamente, com todas as forças do meu ser, a cada segundo do dia apenas ser alguém aceitável em sociedade.
O trabalho está apenas começando, eu sei bem. Mas só de já ter entendido que talvez a parte a ser mudada não era exatamente aquela que eu imaginei, já me faz ter uma esperança de conseguir algum progresso.
Créditos da imagem: wallpaperup.com
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